quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

OPINIÃO: A luta do Paulistinha para manter ativo o futebol profissional em 2014

Na temporada 2013 a folha salarial do CAP girou em torno de modestos R$15 mil/mês (Foto: Saulo Marino)
Escrito por João Victor Gonçalves*

Conforme já foi mostrado neste site, a cidade de São Carlos corre um grande risco de ficar sem um de seus representantes no futebol profissional em 2014: sem apoio do empresariado local, o Clube Atlético Paulistinha pode pedir à Federação Paulista de Futebol seu afastamento da disputa do Campeonato Paulista da Segunda Divisão, campeonato no qual terminou na honrosa sexta colocação em 2013 – lembrando que quatro equipes subiram para a Série A3. O sinal de alerta na região foi dado na última semana, quando a FPF acatou o pedido de licenciamento do Américo Esporte, de Américo Brasiliense.
A provável desistência do Paulistinha mostrará a dura realidade vivida pelo esporte de nossa cidade: sem apoio do poder público e dos empresários locais, as equipes que nos representam encontram dificuldades econômicas para seguirem na ativa, buscando recursos em outras cidades ou ficando reféns de grupos formados por “aventureiros”, prática comum no futebol interiorano.
Todavia, responsabilizar somente o Poder Público e o empresariado local pelo triste destino do CAP em 2014 tiraria a parcela de culpa de uma peça-chave deste processo: o torcedor. Sim, o torcedor são-carlense, que deixou a desejar nas partidas do “Tio Patinhas” em sua jornada histórica na Segundona. Em todos os confrontos que disputou no Estádio Municipal Prof. Luís Augusto de Oliveira, o Tricolor conviveu com públicos medíocres, compostos por menos de 100 pessoas.
Dentro de campo, a equipe de Gilmar Rodrigues se superou, obtendo resultados expressivos e deixando pelo caminho equipes tradicionais e economicamente mais poderosas, como AE Araçatuba, Grêmio Prudente, União Suzano e Olímpia. A cidade, porém, assistiu à jornada do Paulistinha estupefata e apática: exceção feita a uma empresa local, nenhum patrocinador demonstrou interesse em estampar sua marca na camisa tricolor, que foi exibida para todo o país nas partidas transmitidas pela Rede Vida. Certamente, um espaço publicitário em rede nacional custaria aos cofres de qualquer empresa muito mais do que o valor que seria destinado ao CAP.
Diante deste quadro, vem novamente à tona a questão do merecimento que a cidade de São Carlos tem em relação às equipes esportivas. Na realidade, a falta de merecimento. Se os torcedores locais abraçassem a causa do “Tio Patinhas” e comparecessem em um número razoável ao Luisão, ao menos, nas partidas finais, o Paulistinha poderia auferir uma renda vital para a manutenção de sua modesta folha mensal de quase R$ 15 mil. Para se ter uma ideia, somente na partida que garantiu o acesso ao Tupã contra o próprio Paulistinha, foi arrecadado em bilheteria pela equipe comandada pelo ex-jogador Tupãzinho um valor superior a R$ 60 mil. Levando em consideração os 8 meses de folha da equipe são-carlense, a renda do borderô de Tupã x CAP pagaria 50% das despesas do Paulistinha a nível profissional num ano.
Segundo estimativa da diretoria do Paulistinha, o valor necessário para que a equipe possa disputar honrosamente a Segunda Divisão de Profissionais em 2014 é de R$ 30 mil mensais. Para a realidade “árida” do empresariado são-carlense, uma quantia provavelmente inalcançável, que deve manter o plantel tricolor longe dos gramados. Mas, será que não há no interior paulista alguma cidade desejosa de ver uma equipe atuando profissionalmente, na qual seria possível levantar esta quantia? Baseado nisso, penso que a única possibilidade de subsistência do CAP no próximo ano é buscar uma nova morada para disputar suas partidas na Segundona.
Antes que qualquer bairrista mais fanático ataque-me dizendo que se trata de um “abandono” da cidade feito pelo Paulistinha, explico: num provável cenário de mudança de mando de jogos, a equipe manteria suas categorias de base em São Carlos, cumprindo com o dever social proposto desde os tempos do Prof. Marivaldo Carlos Degan, que é o de oferecer aos jovens são-carlenses a oportunidade de formação e construção do senso de cidadania com a bola nos pés.
Já durante a disputa da “Segundona”, a equipe seria “adotada” por alguma cidade da região. Creio que há várias candidatas: imaginem a felicidade do povo de Ibaté, por exemplo, ao ter a oportunidade de torcer por uma equipe a nível profissional, disputando as partidas no município, estampando na camisa a marca de empresas locais. Ou, ainda, em municípios que estão ausentes do profissionalismo a anos, como o caso de Descalvado e Santa Rita do Passa Quatro. Cidades menores, mas com potencial para abrigar o CAP na região, não faltam: Dois Córregos, Brotas, Dourado, Gavião Peixoto etc.
        Como são-carlense, não nego que a possibilidade de não ver uma equipe local que teve um desempenho tão bom em 2013 longe dos gramados é frustrante. Como torcedor do Paulistinha que acompanhou quase todas as partidas da equipe nesta Segundona, porém, vejo que, se houver uma mudança a uma cidade que garanta as condições financeiras e estruturais para a equipe entrar em campo e atuar no Profissionalismo novamente em 2014, apoiarei a decisão e seguirei torcendo pela equipe que, certamente, terá seu merecido reconhecimento fora das quatro linhas. Reconhecimento este que, infelizmente, não foi encontrado em São Carlos...




*João Victor Gonçalves é blogueiro do Globo Esporte (Futebol na Oceania), estudante de Medicina, tem 18 anos e é  torcedor de São Carlos FC e Paulistinha. Sempre presente nas históricas arquibancadas do Luisão

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