terça-feira, 24 de dezembro de 2013

CALENDÁRIO: Paulo André defende os interesses de clubes como Paulistinha e São Carlos

Paulo André, um dos líderes do Bom Senso FC, já viveu a dura realidade da Série B do Campeonato Paulista (Foto: Agência Corinthians)
Escrito por Saulo Marino & Copa Pública

No último domingo, o Futebol de São Carlos publicou uma matéria mostrando que apesar da ótima campanha dentro das quatro linhas, apenas quatro atletas que defenderam as cores do Clube Atlético Paulistinha na Série B do Campeonato Paulista 2013 estão empregados. Indiretamente, o CAP escancarou para a Cidade do Clima como tanto as equipes pequenas como os jogadores que atuam nesses clubes sofrem com o problemático calendário futebolístico do país.
Casos como esses mostram a necessidade de mudanças urgentes no futebol brasileiro, atualmente defendidas pelo Bom Senso FC. Entre elas o aumento de jogos para os clubes pequenos (estendendo o calendário de atividade desses jogadores) e a instituição de um fair play financeiro, com a inclusão de leis mais severas para clubes que descumprirem suas obrigações contratuais, para que os atletas recebam em dia. Só assim, seria possível mudar a história da grande maioria dos jogadores brasileiros, que alguns líderes do Bom Senso, como o jogador Paulo André, zagueiro do Corinthians, não esquece.
“Eu morava num sítio que ficava quatro quilômetros da cidade, dormia num galpão com mais 30 outros sonhadores, aspirantes a jogadores de futebol. A nossa alimentação era precária: arroz, feijão e salsicha todo dia. A estrutura de treino era qualquer pedaço de grama que tinha na cidade. Nas viagens longas que se faziam pelo interior do estado, o ônibus quebrava e a gente chegava em cima da hora, atrasado pra jogar. Eu ganhava um salário mínimo, que era de 180 reais, e atrasava”, disse em entrevista ao blog Copa Pública.
A realidade vivida pelo craque 11 anos atrás, quando defendia as cores do Águas de Lindoia Esporte Clube, não mudou para os clubes menores, que ainda sofrem com esse vácuo de atuação de quem organiza o futebol brasileiro, como ele diz. “Isso não é fomentar futebol e sua prática, isso é expor trabalhadores a condições de risco. Isso é vender uma ilusão de ser jogador de futebol a milhares de pessoas, milhares de atletas, que vivem como verdadeiros bóias-frias do futebol. Vivendo do futebol três, quatro meses no ano, e depois tendo que encontrar outra divisão”, reflete.
“Em nome do Bom Senso digo que queremos a redução de jogos dos times da Série A e aumento do número de jogos de todos os outros times brasileiros”, explica Paulo André, que vê os jogadores dos grandes times sobrecarregados de jogos e os dos pequenos sem-calendário. “A gente acredita que os clubes têm que jogar no mínimo 36 partidas e no máximo 72 partidas no ano. Qualquer modelo que consiga inserir essas duas premissas já é muito melhor do que o que está aí”, diz. “O que tem feito a CBF e as Federações sim, é um assassinato contra os clubes do interior.”
“Não há necessidade de que para que o pequeno exista, ele deva jogar contra o grande”, destaca. “Essa é uma grande mentira que tem emperrado o desenvolvimento dos pequenos. Hoje, no estado de São Paulo, que é o estado mais importante do país no futebol, a gente conta com 105 clubes. Desses 105, 85 não jogam contra os grandes porque fazem parte da Série A2, da Série A3 e da Série B do Paulista. E eles continuam sobrevivendo. Assim como os 7 clubes que jogam a Série A1 e não disputam competições nacionais. O que a gente pergunta para essas pessoas que defendem esse modelo é: qual é a diferença estrutural e financeira dos sete clubes que jogam a A1 para os 85 clubes que não jogam a A1? Não existe diferença. Todos eles estão se matando para tentar sobreviver”, conclui.
Por meio do Bom Senso FC, Paulo André e outros jogadores da “elite” também aproveitam sua visibilidade para denunciar os baixos salários e o atraso nos pagamentos que atingem a maior parte dos atletas. De acordo com dados da CBF, em 2010, 60% dos atletas profissionais registrados ganhavam até um salário mínimo, na época, R$ 510.  Apenas 4,3% ganhava acima de 20 salários mínimos. Na lista dos 20 jogadores mais bem pagos no Brasil, feita pela Pluri Consultoria a pedido da revista Época Negócios, pelo menos oito fazem parte do Bom Senso FC. Enquanto D’Alessandro (Internacional), recebe o melhor salário entre eles, cerca de R$ 625 mil por mês, os jogadores do Paulistinha ganharam na quarta divisão do Campeonato Paulista de 2013 o correspondente a 0,17% desse valor – R$ 1.070, um salário mínimo e meio por mês.


Aqui tem mais:

Nenhum comentário:

Postar um comentário