Paulo André, um dos líderes do Bom Senso FC, já viveu a dura realidade da Série B do Campeonato Paulista (Foto: Agência Corinthians) |
Escrito por Saulo Marino & Copa Pública
No último domingo, o Futebol de
São Carlos publicou uma matéria mostrando que apesar da ótima campanha dentro
das quatro linhas, apenas quatro atletas que defenderam as cores do Clube
Atlético Paulistinha na Série B do Campeonato Paulista 2013 estão empregados.
Indiretamente, o CAP escancarou para a Cidade do Clima como tanto as equipes pequenas
como os jogadores que atuam nesses clubes sofrem com o problemático calendário
futebolístico do país.
Casos como esses mostram a
necessidade de mudanças urgentes no futebol brasileiro, atualmente defendidas
pelo Bom Senso FC. Entre elas o aumento de jogos para os clubes pequenos
(estendendo o calendário de atividade desses jogadores) e a instituição de um
fair play financeiro, com a inclusão de leis mais severas para clubes que
descumprirem suas obrigações contratuais, para que os atletas recebam em dia.
Só assim, seria possível mudar a história da grande maioria dos jogadores
brasileiros, que alguns líderes do Bom Senso, como o jogador Paulo André,
zagueiro do Corinthians, não esquece.
“Eu morava num sítio que ficava
quatro quilômetros da cidade, dormia num galpão com mais 30 outros sonhadores,
aspirantes a jogadores de futebol. A nossa alimentação era precária: arroz,
feijão e salsicha todo dia. A estrutura de treino era qualquer pedaço de grama
que tinha na cidade. Nas viagens longas que se faziam pelo interior do estado,
o ônibus quebrava e a gente chegava em cima da hora, atrasado pra jogar. Eu
ganhava um salário mínimo, que era de 180 reais, e atrasava”, disse em
entrevista ao blog Copa Pública.
A realidade vivida pelo craque 11
anos atrás, quando defendia as cores do Águas de Lindoia Esporte Clube, não
mudou para os clubes menores, que ainda sofrem com esse vácuo de atuação de
quem organiza o futebol brasileiro, como ele diz. “Isso não é fomentar futebol
e sua prática, isso é expor trabalhadores a condições de risco. Isso é vender
uma ilusão de ser jogador de futebol a milhares de pessoas, milhares de
atletas, que vivem como verdadeiros bóias-frias do futebol. Vivendo do futebol
três, quatro meses no ano, e depois tendo que encontrar outra divisão”, reflete.
“Em nome do Bom Senso digo que queremos a redução de jogos dos
times da Série A e aumento do número de jogos de todos os outros times
brasileiros”, explica Paulo André, que vê os jogadores dos grandes times
sobrecarregados de jogos e os dos pequenos sem-calendário. “A gente acredita
que os clubes têm que jogar no mínimo 36 partidas e no máximo 72 partidas no
ano. Qualquer modelo que consiga inserir essas duas premissas já é muito melhor
do que o que está aí”, diz. “O que tem feito a CBF e as Federações sim, é um
assassinato contra os clubes do interior.”
“Não há necessidade de que para
que o pequeno exista, ele deva jogar contra o grande”, destaca. “Essa é uma
grande mentira que tem emperrado o desenvolvimento dos pequenos. Hoje, no
estado de São Paulo, que é o estado mais importante do país no futebol, a gente
conta com 105 clubes. Desses 105, 85 não jogam contra os grandes porque fazem
parte da Série A2, da Série A3 e da Série B do Paulista. E eles continuam
sobrevivendo. Assim como os 7 clubes que jogam a Série A1 e não disputam
competições nacionais. O que a gente pergunta para essas pessoas que defendem
esse modelo é: qual é a diferença estrutural e financeira dos sete clubes que
jogam a A1 para os 85 clubes que não jogam a A1? Não existe diferença. Todos
eles estão se matando para tentar sobreviver”, conclui.
Por meio do Bom Senso FC, Paulo
André e outros jogadores da “elite” também aproveitam sua visibilidade para
denunciar os baixos salários e o atraso nos pagamentos que atingem a maior
parte dos atletas. De acordo com dados da CBF, em 2010, 60% dos atletas
profissionais registrados ganhavam até um salário mínimo, na época, R$
510. Apenas 4,3% ganhava acima de 20
salários mínimos. Na lista dos 20 jogadores mais bem pagos no Brasil, feita
pela Pluri Consultoria a pedido da revista Época Negócios, pelo menos oito
fazem parte do Bom Senso FC. Enquanto D’Alessandro (Internacional), recebe o
melhor salário entre eles, cerca de R$ 625 mil por mês, os jogadores do Paulistinha
ganharam na quarta divisão do Campeonato Paulista de 2013 o correspondente a 0,17% desse valor – R$ 1.070, um salário mínimo e
meio por mês.
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