quinta-feira, 10 de outubro de 2013

OPINIÃO: O sonho apenas começou!

União dos jogadores do Paulistinha foi uma das marcas da equipe na Série B (Foto: Saulo Marino)


Escrito por João Victor Gonçalves*

“O sonho acabou”. Esta frase, tão comum no início de matérias sobre equipes que não conseguem alcançar seus objetivos, não pode ser utilizada como jargão para a eliminação do Paulistinha na Fase Final do Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Aliás, permitam-me inverter o sentido e cravar: “O sonho apenas começou”.
Sonho. Substantivo que poderia definir a pretensão do Paulistinha em brigar pelo acesso no início da disputa da Segundona 2013. Em sua segunda aparição no profissionalismo, o “Tio Patinhas” não arrancava suspiros de seus apoiadores, principalmente pela experiência frustrada na mesma competição em 2010.
Para a atual temporada, o plantel era observado com desconfiança: jogadores com passagens pelo São Carlos FC como Lucas Cezane, Tuco e Mario Willian, e outros “desconhecidos” como Alisson, Luizão e Juninho, que teriam de contrariar as expectativas de uma campanha ruim do tricolor dentro das quatro linhas. Numa primeira fase surpreendente, a equipe de Gilmar Rodrigues conseguiu alcançar a primeira colocação de sua chave, tecnicamente fraca, sem maiores percalços.
Na segunda fase, os comentários dos pessimistas já diziam que “o Paulistinha já tinha dado o máximo de si”. Ledo engano: com uma vitória longe de seus domínios sobre a tradicional AEA Araçatuba, o CAP mostrou que a classificação para a terceira fase não era algo tão distante. Nem mesmo a goleada sofrida em Presidente Prudente para o Grêmio local foi capaz de desanimar a equipe do Recanto: com uma vitória sobre o mesmo Grêmio e o segundo triunfo sobre a AEA, a equipe garantiu sua qualificação.
Com esperanças renovadas, o CAP entrou mais uma vez como “azarão” no novo chaveamento: Assisense, Olímpia e o forte time do União Suzano apareciam como equipes teoricamente superiores ao esquadrão são-carlense. A desclassificação era vista mais uma vez como questão de tempo pelos pessimistas ou realistas; mas o Paulistinha mais uma vez contrariou a lógica, com direito a um dos momentos mais bonitos já vistos na história do Estádio Municipal Luiz Augusto de Oliveira: o triunfo por 3 a 2 sobre o favorito Olímpia com um gol no último lance do volante Rafael Mineiro.
Veio então a quarta fase. A fase que garantia aos dois primeiros colocados da chave o acesso à Série A3. O “Tio Patinhas” estava lá. Incrédula, a população são-carlense assistia o “caçula” da cidade em competições oficiais tentar alcançar o mesmo nível do consolidado São Carlos FC, e de outras tantas equipes de tradição do futebol paulista como Internacional de Limeira, Francana, Taubaté, etc. Crendo-se no acesso ou não, o feito da equipe de Gilmar Rodrigues já era indiscutível. Na visão dos mais pessimistas, o Paulistinha já era uma equipe, no mínimo, “ousada”.
Porém, “ousadia” é um termo que fica aquém do feito desses rapazes. Guerreiros que jogaram com disposição e aplicação recebendo em torno de um mil reais mensais, uma das folhas salariais mais baixas da Segundona Paulista - que provavelmente não se equipara ao “bixo” recebido por jogadores de times como Matonense e Água Santa em caso de acesso. Lutadores, que superaram dificuldades para treinamentos, com a impossibilidade de utilizar o Luizão, num episódio que demonstra a intolerância dos administradores do recinto em relação ao CAP. Batalhadores, que se entregaram dentro de campo mesmo sob o olhar atento de poucos torcedores, que corroboraram a triste confirmação de que, de modo geral, nossa cidade não sabe dar valor às instituições esportivas que possui.
Não deu. Com 4 pontos em 5 jogos, o Paulistinha não tem mais chances de acesso, despedindo-se da competição no próximo domingo, no Luizão, contra o Atibaia. Mas quem disse que isso significa o fim do sonho de jogadores, diretores e torcedores do CAP? Pelo contrário, é apenas o começo. Recomeço, talvez: apoiado por sua bonita campanha, o Paulistinha conquistou seu espaço no cenário paulista, sendo reconhecido como representante de São Carlos em várias cidades do nosso estado; com a qualidade técnica demonstrada, certamente muitos jogadores conseguirão uma oportunidade em equipes de maior destaque e projeção e, por ventura, voltarão a defender as cores do tricolor em outras ocasiões.
Por fim, fica como grande triunfo a alegria de ver o sorriso do torcedor são-carlense a cada vitória improvável do Paulistinha na competição. Alegria esta que pode ser a motivadora para um apoio cada vez crescente da equipe na cidade. Cidade que, pelo feito da equipe de Gilmar Rodrigues nesta Segundona, talvez não merecesse a disposição demonstrada pelo Paulistinha. Porém, julgar méritos pode não ser o caminho mais correto nesta ocasião. A certeza é que 2013 foi o começo de um sonho para jogadores, comissão técnica e diretores do “Tio Patinhas”. Sonho esse que deve continuar por muitos campeonatos...


*João Victor Gonçalves é blogueiro do Globo Esporte (Futebol na Oceania), estudante de Medicina, tem 18 anos e é  torcedor de São Carlos FC e Paulistinha. Sempre presente nas históricas arquibancadas do Luisão.

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