União dos jogadores do Paulistinha foi uma das marcas da equipe na Série B (Foto: Saulo Marino) |
Escrito por João Victor
Gonçalves*
“O sonho acabou”. Esta frase, tão
comum no início de matérias sobre equipes que não conseguem alcançar seus
objetivos, não pode ser utilizada como jargão para a eliminação do Paulistinha
na Fase Final do Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Aliás, permitam-me
inverter o sentido e cravar: “O sonho apenas começou”.
Sonho. Substantivo que poderia
definir a pretensão do Paulistinha em brigar pelo acesso no início da disputa
da Segundona 2013. Em sua segunda aparição no profissionalismo, o “Tio Patinhas”
não arrancava suspiros de seus apoiadores, principalmente pela experiência
frustrada na mesma competição em 2010.
Para a atual temporada, o plantel
era observado com desconfiança: jogadores com passagens pelo São Carlos FC como
Lucas Cezane, Tuco e Mario Willian, e outros “desconhecidos” como Alisson,
Luizão e Juninho, que teriam de contrariar as expectativas de uma campanha ruim
do tricolor dentro das quatro linhas. Numa primeira fase surpreendente, a
equipe de Gilmar Rodrigues conseguiu alcançar a primeira colocação de sua
chave, tecnicamente fraca, sem maiores percalços.
Na segunda fase, os comentários
dos pessimistas já diziam que “o Paulistinha já tinha dado o máximo de si”.
Ledo engano: com uma vitória longe de seus domínios sobre a tradicional AEA
Araçatuba, o CAP mostrou que a classificação para a terceira fase não era algo
tão distante. Nem mesmo a goleada sofrida em Presidente Prudente para o Grêmio
local foi capaz de desanimar a equipe do Recanto: com uma vitória sobre o mesmo
Grêmio e o segundo triunfo sobre a AEA, a equipe garantiu sua qualificação.
Com esperanças renovadas, o CAP
entrou mais uma vez como “azarão” no novo chaveamento: Assisense, Olímpia e o
forte time do União Suzano apareciam como equipes teoricamente superiores ao
esquadrão são-carlense. A desclassificação era vista mais uma vez como questão
de tempo pelos pessimistas ou realistas; mas o Paulistinha mais uma vez
contrariou a lógica, com direito a um dos momentos mais bonitos já vistos na
história do Estádio Municipal Luiz Augusto de Oliveira: o triunfo por 3 a 2
sobre o favorito Olímpia com um gol no último lance do volante Rafael Mineiro.
Veio então a quarta fase. A fase
que garantia aos dois primeiros colocados da chave o acesso à Série A3. O “Tio
Patinhas” estava lá. Incrédula, a população são-carlense assistia o “caçula” da
cidade em competições oficiais tentar alcançar o mesmo nível do consolidado São
Carlos FC, e de outras tantas equipes de tradição do futebol paulista como Internacional
de Limeira, Francana, Taubaté, etc. Crendo-se no acesso ou não, o feito da equipe
de Gilmar Rodrigues já era indiscutível. Na visão dos mais pessimistas, o
Paulistinha já era uma equipe, no mínimo, “ousada”.
Porém, “ousadia” é um termo que
fica aquém do feito desses rapazes. Guerreiros que jogaram com disposição e
aplicação recebendo em torno de um mil reais mensais, uma das folhas salariais
mais baixas da Segundona Paulista - que provavelmente não se equipara ao “bixo”
recebido por jogadores de times como Matonense e Água Santa em caso de acesso.
Lutadores, que superaram dificuldades para treinamentos, com a impossibilidade
de utilizar o Luizão, num episódio que demonstra a intolerância dos
administradores do recinto em relação ao CAP. Batalhadores, que se entregaram
dentro de campo mesmo sob o olhar atento de poucos torcedores, que corroboraram
a triste confirmação de que, de modo geral, nossa cidade não sabe dar valor às
instituições esportivas que possui.
Não deu. Com 4 pontos em 5 jogos,
o Paulistinha não tem mais chances de acesso, despedindo-se da competição no
próximo domingo, no Luizão, contra o Atibaia. Mas quem disse que isso significa
o fim do sonho de jogadores, diretores e torcedores do CAP? Pelo contrário, é
apenas o começo. Recomeço, talvez: apoiado por sua bonita campanha, o
Paulistinha conquistou seu espaço no cenário paulista, sendo reconhecido como
representante de São Carlos em várias cidades do nosso estado; com a qualidade
técnica demonstrada, certamente muitos jogadores conseguirão uma oportunidade
em equipes de maior destaque e projeção e, por ventura, voltarão a defender as
cores do tricolor em outras ocasiões.
Por fim, fica como grande triunfo
a alegria de ver o sorriso do torcedor são-carlense a cada vitória improvável
do Paulistinha na competição. Alegria esta que pode ser a motivadora para um
apoio cada vez crescente da equipe na cidade. Cidade que, pelo feito da equipe
de Gilmar Rodrigues nesta Segundona, talvez não merecesse a disposição
demonstrada pelo Paulistinha. Porém, julgar méritos pode não ser o caminho mais
correto nesta ocasião. A certeza é que 2013 foi o começo de um sonho para
jogadores, comissão técnica e diretores do “Tio Patinhas”. Sonho esse que deve
continuar por muitos campeonatos...
*João Victor Gonçalves é blogueiro do Globo Esporte (Futebol na Oceania), estudante de Medicina, tem 18 anos e é torcedor de São Carlos FC e Paulistinha.
Sempre presente nas históricas arquibancadas do Luisão.
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